Liberdade e responsabilidade: estudo sobre a possibilidade de uma filosofia prática em Nietzsche

Esta tese de doutorado é dedicada ao estudo do pensamento de Nietzsche quanto à liberdade e à responsabilidade. Circunscrevendo-se no período que vai de Humano, demasiado Humano até as obras da maturidade produtiva do filósofo, o autor busca identificar os diversos meios que o pensador usou para tentar conceber uma noção de liberdade individual que não incorresse nos pressupostos metafísicos que historicamente determinaram seu conceito, problematizando assim as noções de sujeito, autodeterminação, intencionalidade, vontade, metas, motivos da ação e, particulamente, a noção de responsabilidade. Por meio da análise crítica de determinadas referências teóricas do filósofo, junto de uma leitura cronológica que acompanha as transformações conceituais presentes nas obras publicadas e nas anotações póstumas, esta pesquisa mostra o caminho de experimentação por meio do qual o pensamento de Nietzsche tomou forma e amadureceu ao longo dos anos. O problema que orienta toda a concepção da tese é o questionamento sobre como ser possível a responsabilidade no interior da própria desconstrução do sentido quanto aos critérios de avaliação das ações, de seus motivos e objetivos. Neste sentido, esta pesquisa investiga como Nietzsche busca por outros critérios que possibilitem avaliações e ações com engajamento efetivo e duradouro. Na medida em que sua busca por superação da metafísica envolve o ensaio de pensar num outro modo de relação com a prática de estabilização do devir que não exclua a assunção de sua vigência e as consequências disso, o autor postula a hipótese interpretativa de que o ideal moral de Nietzsche reside na figura do indivíduo soberano apresentado em Para a Genealogia da Moral, no qual se concretizaria a viabilidade de uma forma de comprometimento com projetos e pessoas, reinstaurando-se a liberdade e a responsabilidade como critérios de autorealização que superem, ao mesmo tempo, os seus tradicionais critérios metafísico-niilistas, por meio de uma outra compreensão de subjetividade e de autodeterminação, a partir da prática de experimentos de auto superação que não incorram necessariamente na impossibilidade de engajamentos duradouros.

The study of Nietzsche's thoughts on freedom and responsibility is at the center of this doctorates thesis. The research focused on the period from Human, All Too Human to the productive works of the philosophers maturity. The author aims to identify the various means that the thinker used to try to envisage a notion of individual freedom that is not subjected to the metaphysical assumptions that historically determined its concept. Thus questioning the notions of subject, self-determination, intentionality, will, goals, and actions motives, in particular, the notion of responsibility. Through critical analysis of particular theoretical references of the philosopher, alongside chronological reading of the conceptual transformations present in the published works and posthumous notes, this research shows the path of experimentation through which Nietzsche's thought took shape and matured over the years. The questionof how responsibility could be possible when its meaning is deconstructed in terms of traditionalcriteria for evaluating actions, their motives and goals, guides the thesis. In this sense, this research investigates how Nietzsche searches for other criteria that enable reviews and actions with effective and lasting engagement. Insofar as his quest to supersedemetaphysics involves the practicing of thinking in another way of relating with the practice of stabilization of becoming that does not exclude the assumption of its validity and the consequences of such, the author postulates an interpretive hypothesis. This contends that the moral ideal of Nietzsche lies in the figure of the sovereign individual presented in On the Genealogy of Morals. In this figure, the feasibility of a form of commitment to projects and people would materialize, reintroducing freedom and responsibility as criteria for self-realization that overcome, at the same time, their traditional metaphysical nihilist criteria. This being achieved by means of further understanding of subjectivity and self-determination, from the practice of experiments of self-overcoming, which do not necessarily entail the impossibility of lasting commitments.